Desde os desastres acontecidos em Mariana (2015) e Brumadinho (2019), muito se tem discutido com relação à disposição dos rejeitos gerados pela mineração.
A crescente preocupação com a conservação ambiental tem levado cada vez mais ao aproveitamento de rejeitos de mineração. Seja pelo emprego de novas tecnologias de beneficiamento desses “minérios” de teores mais pobres e finos (baixa granulometria) ou pela utilização dos mesmos para outras aplicações.
E é sobre isso que abordaremos no texto a seguir!!
Caracterização de rejeitos
A caracterização tecnológica de minérios é uma etapa fundamental para o máximo aproveitamento de um recurso mineral. Nos dias atuais, a caracterização dos rejeitos tem constituído uma etapa essencial para o seu reaproveitamento. As informações obtidas são utilizadas para o desenvolvimento e a otimização de rotas de processos de beneficiamento.
A baixa aplicação da caracterização de rejeitos, até alguns anos, se devia à grande disponibilidade de minérios de teores altos. Sendo os rejeitos descartados sem grande conhecimento de suas características físicas, químicas e mineralógicas e do seu comportamento mediante aos processos de beneficiamento.
A forma mais comum de disposição dos rejeitos é o armazenamento em barragens o que, após esses desastres, está sendo questionada e novas formas estão sendo pensadas e estudadas. Desse modo, a recuperação e a comercialização dos rejeitos de mineração estão entre as possíveis soluções tecnológicas para minimizar o conteúdo das barragens.
Essa mudança no cenário advém, não somente da maior preocupação com questões ambientais, mas também da escassez de minérios e do declínio dos teores de concentração nas jazidas de diversos minerais.
Algumas formas de recuperação se dão por método gravítico, separação magnética e flotação. A flotação catiônica reversa de minério é muito utilizada em recuperação de minérios de ferro, manganês, entre outros. Além disso, a utilização de rejeitos na confecção de materiais para a construção civil também constitui uma linha de pesquisa em desenvolvimento.
Flotação Catiônica Reversa de Minério de Ferro
O beneficiamento de minérios de ferro, por vezes, requer um número grande de estágios de fragmentação. Isso eleva significativamente a fração de finos e ultrafinos, que são considerados rejeitos. Tais frações, por sua vez, apresentam baixa recuperação metalúrgica no processo de flotação.
Estudos da morfologia das partículas devido ao tipo de moagem e de processos de flotação de finos visam aumentar a recuperação de ferro. Assim, visa-se também reduzir a quantidade de rejeitos gerados nos processos de fragmentação e no beneficiamento.
A flotação é um processo de concentração mineral que explora as diferenças nas características das superfícies minerais na água, com ênfase na hidrofobicidade. Saiba mais sobre em nosso texto de flotação!
Uma das soluções que vem sendo estudada por diversos pesquisadores é o uso da técnica de floculação seletiva, aliada ao método de flotação catiônica reversa, que é o mais utilizado no Brasil. Estudos propõe a utilização de polímeros hidrossolúveis (poliacrilamida) de alto peso molecular atuando como um co-depressor no processo.
O uso da poliacrilamida permite a agregação das partículas finas e ultrafinas formando flocos, dessa forma, auxiliando no processo de concentração por meio da flotação. As poliacrilamidas se adsorvem fortemente na hematita através de ligações químicas nas superfícies dos átomos de ferro, enquanto que, no quartzo, se adsorvem fracamente por causa da repulsão eletrostática, garantindo assim seletividade do método.
Aproveitamento de Rejeitos em Materiais da construção civil
Diversas universidades mantêm várias linhas de pesquisa relacionadas ao aproveitamento de rejeitos e sua transformação em coprodutos que podem ser aplicados em diversas áreas, como a construção civil. Como por exemplo, pode ser citado o empenho dos pesquisadores da UFMG, que construíram uma casa a partir de rejeitos e estéreis.
Um projeto de lei (PL 1496/2019), de autoria do Senador Jaques Wagner (PTBA), que altera a Política Nacional dos Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010), está em tramitação, sendo analisada atualmente pela Comissão de Meio Ambiente (CMA). Primordialmente, ele prevê que empresas mineradoras sejam obrigadas a destinar parte dos resíduos de mineração para a fabricação de artefatos e materiais da construção civil.
A PL 1496/2019 define que parte dos resíduos que não seja tóxica ou contenha metais pesados seja destinada à fabricação de blocos para alvenaria, tijolos, telhas, cerâmicas e lajotas, que serão destinadas para fins sociais e econômicos, que podem ser desde a doação a cooperativas de habitação para populações de baixa renda, doação a municípios, uso pela própria mineradora e até a comercialização dos produtos.
Além disso, a PL 1496/2019 prevê a implementação de forma progressiva, de modo que, a partir do quinto ano subsequente ao da publicação da lei, a totalidade dos resíduos seja destinada à produção de materiais para a construção civil.
E o que podemos concluir desse cenário?
Desse modo, vemos que o beneficiamento de minérios tem que ser utilizado de forma adequada, visando contribuir para redução dos impactos ambientais, o aproveitamento dos rejeitos e sua transformação em coprodutos que podem ser aplicados em outras áreas. A disposição de rejeitos deve ser uma preocupação primordial das empresas mineradoras, do governo e da sociedade.
É importante e necessário que haja incentivo a pesquisa nas universidades e parcerias com empresas para o reaproveitamento desse rejeito, visando cada dia mais, o uso sustentável de todos os produtos e subprodutos da mineração, em um ciclo de economia circular.
Autora: Thaís Fonseca
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