Você sabia que daqui a milhões de anos a África como conhecemos pode não existir? Em 18 de março de 2018, próximo a um pequeno vilarejo no Quênia, uma enorme fenda começou a se abrir. Essa fenda, parte do Rift do Leste Africano, que hoje possui quilômetros de extensão e metros de largura, mostra o seguinte fato: o continente da África está se separando.
Por que isso ocorre?
A fenda exposta na figura acima, na verdade está relacionada a uma falha geológica presente na placa Africana também chamada Vale do Rift. Essa formação, que é literalmente a separação da litosfera ao longo de uma fronteira, está causando com que a placa Africana se separe em duas. A oeste está a Placa da Núbia, contendo boa parte do continente, e a leste, a Placa Somali, abrangendo a Somália, Quênia, Madagascar e Etiópia. E é esta última que caminha para se tornar um conjunto de ilhas no meio do Oceano Índico, assim como Madagascar.
Mas de onde vem o Rift?
A teoria geológica mais atual diz que, devido a um maior aquecimento do manto na região, a crosta se expandiu e deformou. Aliado ao movimento divergente das Placas Somali e da Núbia, foi facilitada a formação de falhas em configuração ”horst e graben”. Dita formação se assemelha a “morros e vales”, na qual os vales vão ficando mais profundos à medida que se separam. Levando à divisão da Placa Africana Original em duas, e à formação de um oceano novo entre as duas.
Afinal, onde estão as aberturas?
Na verdade, essa região conhecida como “Chifre da África” não contém apenas um rift, mas na verdade dois, como mostra a figura abaixo. O Rift da Etiópia, mais ao norte, se dá no ponto de encontro de 3 placas tectônicas, as placas Somali, da Núbia e da Arábia. E a separação completa do futuro continente se dará quando os rifts crescerem tanto a ponto de criar um único oceano, separando por completo os dois continentes.
Como se dará o afastamento?
As fendas têm se movimentado com velocidade de, em média, 2,5 a 5 cm/ano em direção ao sul, e, à medida que forem se alongando, causarão a separação completa das duas regiões. Portanto, esse é um processo que ainda vai demorar milhões de anos, e, conforme for avançando, vai causar terremotos, erupções de magma e muita destruição. Ocorrerá a formação de um novo oceano, bem como novo leito oceânico, entre o que sobrar da África e o novo continente. Do mesmo modo, na medida que a Placa Somali se movimentar para longe da África, novo magma ascenderá da abertura meso-oceânica que se formará entre a África e o novo continente, ocasionando também a formação de novas ilhas e vulcões.
Importância
As aberturas ocorridas recentemente no Quênia, relacionadas ao Rift Leste Africano, que começou sua formação a aproximadamente 30 milhões de anos, fornecem para os Geólogos uma oportunidade praticamente única no mundo. Como a esmagadora maioria de sistemas similares já evoluíram para estarem abaixo de água e sedimentos, é no Leste Africano que podem estudar em tempo real o surgimento de um novo continente e placa tectônica, o funcionamento de rifts ainda novos dentro de um continente, e até mesmo os processos de formação de assoalho oceânico ainda em terra, causado por erupções vulcânicas principalmente no rift oriental (ver figura 2).
Conclusão
Em suma, a África, região que já é tão academicamente importante para os historiadores entenderem a origem da raça humana, vem se tornando ainda mais importante. Com o crescente número de oportunidades para os geólogos estudarem estruturas geológicas que outrora apresentavam dificílimo acesso. Infelizmente não poderemos ver a conclusão dessas ações em nosso tempo de vida, mas podemos ao menos imaginar o quão diferente nosso planeta será em um futuro ainda muito distante.
Assim como o Grande Rift , outro acidente geológico famoso é a Falha de San Andreas. Caso tenha interesse pode encontrar mais informações sobre ela aqui. Ademais, mais informações sobre o rift podem ser encontradas aqui.
Autor: André Fernandes Chamis
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