Segundo dados da mining.com divulgados no Instituto Minere, a Austrália ocupava até 2018 a posição de segundo maior produtor de ouro do mundo. Entretanto, as jazidas australianas correm risco de enfrentarem um esgotamento. Dessa forma, é preciso encontrar novas reservas para a manutenção da exploração em uma posição de destaque.
A boa notícia para as mineradoras australianas surgiu próximo da cidade de Boddington. Descobriram que um fungo chamado Fusarium oxysporum era capaz de atrair partículas de ouro de uma forma fascinante.
Por que um fungo se ligaria ao ouro?
Uma das características determinantes dos metais preciosos é que eles não são bons em reagir quimicamente. Esse fator é algo que causa ainda mais espanto nos cientistas em relação ao “superpoder” do Fusarium oxysporum. De acordo com cientistas da Organização de Ciência e Pesquisa Industrial da Commonwealth (CSIRO), o fungo pode se beneficiar da aglutinação com o ouro. Constatações apontaram que espécies revestidas de ouro cresciam mais rapidamente e ficavam maiores em comparação àqueles que não realizavam esse tipo de interação.
As descobertas inesperadas da ciência e a curiosidade acadêmica
Enquanto Alexander Fleming, em 1928, descobriu a penicilina de forma acidental – coincidentemente a descoberta também se relaciona a um fungo – o Dr. Tsing Bohu se deparou com o Fusarium oxysporum e sua capacidade juntamente com sua equipe quando resolveram experimentar os micróbios encontrados no solo rico em ouro da Austrália Ocidental. Essas relações de acaso e curiosidade apontam para como a ciência pode ser guiada por coisas além da lógica e do raciocínio cru, o que difere do que acredita o senso comum.
“Os fungos podem oxidar minúsculas partículas de ouro e precipitá-las em seus filamentos – esse processo de ciclagem pode contribuir para a distribuição de ouro e outros elementos ao redor da superfície da Terra”, Bohu explica. É razoável, portanto, ressaltar que essa descoberta não se deu no passado porque as partículas de ouro só podem ser vistas sob um microscópio eletrônico de varredura.
Como o Fusarium oxysporum pode ajudar a mineração?
Os cientistas não dedicam esforços para compreender melhor o funcionamento do fungo apenas por desejo de conhecimento. A utilização dessa espécie como ferramenta na indústria pode se tornar uma realidade. Isso se deve ao fato de que existe o potencial de que a peculiar atração entre fungo e ouro identifique depósitos do elemento metros abaixo da superfície.
“Queremos entender se o fungo que estudamos pode ser combinado a essas outras ferramentas exploratórias para ajudar a indústria a mirar em áreas prospectivas”, diz Ravi Anand, cientista-chefe da pesquisa na CSIRO.
A relação entre a indústria e o Fusarium oxysporum não se trata de uma exploração dessa espécie, mas de uma cooperação. Enquanto as empresas aumentam seus lucros em virtude da maior identificação de reservas auríferas, o fungo beneficia-se biologicamente pela maior disponibilidade do material que contribui para seu crescimento.
Perspectiva australiana na exploração e produção de ouro
Como citado anteriormente, a Austrália é a segunda maior nação produtora de ouro, ficando apenas atrás da China. De acordo com Christopher Galbraith, analista da S & P Global Market Intelligence, a Austrália deve cair para o quarto lugar globalmente em 2024, em função da projeção de esgotamento das jazidas existentes. Nesse cenário, o fungo surge como uma esperança para que o país encontre novos depósitos com uma exploração de baixo impacto ecológico.
As possibilidades do F. oxysporum não se restringem à identificação do ouro, os cientistas apontam para utilizações ainda mais amplas para essa espécie. Existe a chance de que esse fungo possa se tornar uma ferramenta de biorremediação, isto é, seria possível recuperar o ouro dos resíduos.
As pesquisas da CSIRO contaram com uma abordagem multidisciplinar. Nelas, utilizaram geologia, biologia molecular, análise de informática e astrobiologia, e isso ajuda a compreender a amplitude do fenômeno realizado pelo fungo. Assim, a mineração caminha para se tornar mais inovadora e sustentável para as futuras gerações, isso sem perder o enfoque econômico da produção de ouro.
Autor: Guilherme Figueiredo Alvarenga Junqueira
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