Ainda que pouco conhecida, a Geologia Forense é o campo que utiliza do estudo dos minerais, amostras de solo, fósseis, etc, no âmbito da investigação criminal. São diversas as possibilidades de atuação, como análise de vestígios de cenas do crime, identificação de falsificações de fósseis e gemas, investigação de mineração clandestina, entre outros. Se você sempre gostou de acompanhar séries da temática e faz parte da área da geologia, leia nosso texto sobre Geologia Forense: Uma área promissora.
História da Geologia Forense
No início do século XX, ocorreu o famoso assassinato de Eva Disch, na cidade de Frankfurt, Alemanha. Esse caso ficou marcado como o primeiro a serem utilizadas evidências geológicas. Nesse sentido, o protagonista, responsável por solucionar o crime, foi George Popp.
Na época, o principal suspeito era Karl Laubach. Ele trabalhava metade do tempo em uma usina de gás movida a carvão e, no restante do dia, em uma pedreira. Conforme registros, a arma do crime foi o cachecol da própria vítima. Todavia, o criminoso cometeu o descuido de deixar seu lenço de bolso próximo ao corpo. Entretanto, devido a falta de recursos tecnológicos da época, testes, como o exame de DNA, não eram uma realidade desse tempo. Isso tornou impossível uma primeira identificação do suspeito.
Porém, George Popp, ao analisar o lenço com um microscópio, pôde perceber a presença de partículas de rapé e carvão. Além disso, havia uma variedade de minerais, como a hornblenda que é um anfibólio muito comum em rochas ígneas. Mas, que também pode ocorrer em alguns tipos de rochas metamórficas como gnaisses, xistos, e obviamente, em anfibolitos. Ambas as evidências estavam intrinsecamente relacionadas aos locais de trabalho de Karl.
Ademais, ao realizar a análise do corpo da vítima, Popp identificou carvão e alguns minerais presentes sob a unha da vítima, inclusive, a hornblenda. Do mesmo modo, foram coletas amostras de solo das roupas que o suspeito utilizou no dia no homicídio. Como resultado da análise, conclui-se similaridade entre os vestígios da roupa do suspeito e com os solos que compunham o trajeto entre a cena do crime e a casa de Karl.
Ao serem apresentas todas as provas perante o tribunal. Karl Laubach confessou o homicídio de Eva Disch. Atualmente, mesmo com a disponibilidade de recursos avançados de investigação, o uso de evidências geológicas é muito usual. Durante o texto, você entenderá o porquê.
A geologia envolvida na área criminalista
Materiais de análise envolvidos na rotina de todos os geólogos também são de grande valia para investigações criminais. Exemplo disso é utilização de amostras de solos, rochas, minerais e fósseis que estejam presentes em uma cena do crime para traçar possíveis associações em relação aos suspeitos. Além disso, esses materiais também podem determinar fatores como tempo e causa nesse contexto. (Fonte: Portal Ideológico, 2019).
De maneira análoga, um outro exemplo interessante é a comparação feita entre amostras de solo. Veja como funciona na prática a identificação da origem desses materiais:
- A priori, se o solo retirado de um corpo não coincide com o solo do local onde o corpo for encontrado, o geólogo sugere locais que possam corresponder ao solo encontrado no corpo.
- Uma outra possibilidade é que o geólogo também pode comparar amostras, amostras associadas ao suspeito e as outras recolhidas no local do crime, para ver se têm uma origem comum. “O solo no sapato do suspeito tem características semelhantes ao tipo de solo colhido no local do crime?” (Fonte: Guedes, Valentim. Dados geológicos em ciências forenses). Para entender um pouco mais sobre o assunto, confira na seção a seguir os dados geológicos importantes para às ciências forenses.
Propriedades Geológicas utilizadas
Primeiramente, podemos citar como propriedades envolvidas nessa análise a cor, distribuição granulométrica e a mineralogia.
Cor
Entre os diversos métodos de análise, a cor é de extrema importância para o ramo. Isso porque os minerais nativos são os principais contribuintes no que se trata da coloração de solos. Dessa forma, é possível determinar quais compostos estão presentes em amostras de solo oriundas de alguma cena do crime. Confira exemplos:
- A cor vermelha num solo (avermelhado) é um indicador da presença de óxidos de ferro e depende da quantidade de ferro presente e do estado de oxidação deste;
- Já a cor negra num solo (preto), pode resultar da presença de manganês ou de combinações de ferro e manganês, mas também pode indicar a presença de matéria orgânica;
- Em paralelo, a cor verde num solo (esverdeado) pode resultar da presença de minerais de cobre, clorite, e glauconite;
- A cor azul num solo (azulado) pode resultar da presença de vivianite;
- Por último, um solo mais escuro pode estar relacionado com a existência de humidade (Sugita e Marumo 1996, Croft e Pye 2004, Murray 2011).
Atualmente, a fim de determinar a cor dessas amostras, faz-se o uso de um espectrofotômetro para obter respostas concretas em relação a determinação dessa propriedade. (Fonte: Guedes, Valentim. Dados geológicos em ciências forenses).
Distribuição Granulométrica
Além disso, um outro ponto importante para a área é a distribuição granulométrica. A partir de técnicas de separação dos grãos de duas amostras semelhantes, é possível diferenciá-las. Isso porque esse estudo fornece dados quanto tamanho e textura dos grãos. Um exemplo claro, é a comparação da amostra sugerida por um advogado de defesa com a colhida na cena do crime. Assim, é possível encontrar diferentes dimensões de grãos entre as duas o que é uma evidência essencial para o tribunal.
Mineralogia
Em virtude da diversidade e diferenças existentes entre os minerais, eles podem se tornar provas para investigações. Por meio do exame microscópico, é possível identificar partículas raras ou pouco comuns contidas nas amostras. (Sugita e Marumo 2004).
Geologia Forense: Uma área promissora!
A partir da leitura desse texto, você pôde perceber que os materiais geológicos são muito úteis para as ciências forenses. Portanto, a Geologia Forense é uma área promissora e que tem ganhado reconhecimento. Uma das instituições de maior relevância na área é a Initiative on Forensic Geology (IFG), ou Iniciativa em Geologia Forense. Ela foi fundada em 22 de fevereiro de 2011 durante a 62ª Reunião do Comitê Executivo da União Internacional de Ciências Geológicas (IUGS), na Sede da UNESCO em Paris.
Dessa forma, o propósito da iniciativa é incentivar e divulgar os estudos de geologia para fins criminalísticos. Nesse sentido, o comitê possui membros de vários países e inclui especialistas de universidades, indústrias, consultorias, peritos criminais geólogos, órgãos policiais, agências de execução da lei e organizações forenses.
Além disso, ela possui capítulos estudantis que são formados por estudantes de Graduação e Pós-Graduação em Ciências Geológicas, Geofísicas, Geodésicas ou Oceanográficas. Esses capítulos contam com a presença de professores e peritos criminais. Sua finalidade é fomentar o aprendizado e pesquisas científicas na área.
Por último, no que tange o crescimento desse ramo, existem, atualmente, diversos cargos que exigem conhecimentos a cerda da geologia forense, como na Polícia Federal Brasileira. Caso você tenha se interessado pela área, são diversos e promissores os campos de atuação!
Autor(a): Brenda Costa Belchior Guimarães.
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